Ana Paula Ribeiro Kenes
Supervisora de Análises Clínicas do Hugol
Os exames laboratoriais desempenham um papel crucial no diagnóstico e na tomada de decisão médica. Eles fornecem dados essenciais que orientam os profissionais de saúde na identificação de condições clínicas, monitoramento de tratamentos e prognósticos de doenças. Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), cerca de 70% das decisões médicas são baseadas em resultados de exames laboratoriais. No entanto, a importância desses exames deve ser equilibrada com a necessidade de solicitações eficazes para evitar desperdícios e garantir a sustentabilidade do sistema de saúde.
Estudos indicam que uma parcela significativa dos exames laboratoriais realizados em hospitais é desnecessária ou duplicada. Dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) revelam que aproximadamente 20% dos exames laboratoriais solicitados são repetidos de forma desnecessária, o que gera um custo adicional significativo e sobrecarrega o sistema de saúde. Este desperdício não só impacta negativamente os recursos financeiros, mas também pode levar a atrasos no diagnóstico e tratamento, além de aumentar o desgaste dos profissionais de saúde e a carga de trabalho nos laboratórios.
Diante deste cenário, o projeto de gerenciamento de exames laboratoriais duplicados foi implementado no Hugol – Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, administrado pela Agir – Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde, como fruto do Programa de Desenvolvimento de Líderes 2023, com objetivos claros: utilizar de forma eficiente os recursos financeiros, evitar desperdícios, otimizar a mão de obra e melhorar a eficiência e qualidade dos exames. Ao focar na redução de exames duplicados, o projeto busca proporcionar uma assistência ao paciente que priorize a segurança e a qualidade, garantindo que os recursos do hospital sejam usados de maneira mais inteligente e sustentável.
O projeto de melhoria implantado no laboratório do Hugol, realizado entre agosto e novembro de 2023, foi um marco importante na busca por excelência na gestão de exames laboratoriais. Utilizando ferramentas da qualidade com foco em métodos de gestão analítica, como: mapeamento de processos; diagrama de Ishikawa; diagrama de processos; fluxogramas; brainstorming e 5W2H, o projeto estabeleceu um plano de ação estratégico e abrangente. Este plano começou com o mapeamento do processo de solicitação de exames, seguido por treinamentos para a equipe do laboratório, da assistência e a implementação de um fluxo mais eficiente de envio de dados aos setores de internação. A criação de um painel de monitoramento permitiu uma visualização transparente do progresso e a identificação de áreas de melhoria.
O diagnóstico inicial do projeto revelou uma média mensal de 10.800 exames solicitados de forma duplicada, representando 15% do total de exames realizados mensalmente no laboratório. Os resultados obtidos foram notáveis. Houve uma redução de 4% no número total de exames solicitados, diminuindo a taxa de exames duplicados para 11% no mês. Isso resultou em uma redução de 42% no custo médio mensal com exames duplicados. Além disso, a eficiência do processo de liberação de exames urgentes melhorou significativamente. O tempo médio de liberação caiu de 3:32 h para 2:54 h, e a taxa de exames urgentes liberados no prazo de 3 horas aumentou de 65,25% para 76,64%.
O projeto de melhoria em Gerenciamento de Exames Laboratoriais Duplicados foi um passo crucial para aprimorar a eficiência e a qualidade dos serviços prestados aos pacientes. Com o objetivo de reduzir desperdícios financeiros, tempo e mão de obra, o projeto alcançou resultados significativos. Durante seu período, houve melhorias na eficiência do processo, notadamente com uma melhora de quase 11% no tempo de liberação de exames urgentes e uma queda de 4% no número de exames solicitados de forma duplicada.
Este projeto representa mais do que uma simples iniciativa de redução de custos, ele simboliza uma transformação cultural e operacional que pode servir de modelo para outras unidades de saúde. A eficiência alcançada demonstra que, com planejamento estratégico e uso de ferramentas analíticas, é possível promover mudanças significativas que beneficiem tanto a instituição quanto os pacientes.
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