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Otimização do processo de acompanhamento das traqueostomias e quantificação das decanulações na alta de um hospital de urgências de grande porte

Aumento em 82% dos registros de decanulação a partir da criação de um painel pelo prontuário eletrônico



Sara Mendes Ribeiro

Supervisora Multiprofissional Clínico e Cirúrgico no Hugol

 

A traqueostomia é um procedimento cirúrgico que envolve a criação de uma abertura direta na traqueia através do pescoço, permitindo a passagem de ar para os pulmões. Este procedimento é frequentemente indicado em casos de obstrução das vias aéreas superiores, necessidade prolongada de ventilação mecânica, ou para facilitar a remoção de secreções pulmonares  , redução do trabalho respiratório, maior conforto para o paciente em comparação com a intubação endotraqueal prolongada, e a possibilidade de comunicação oral em alguns casos (SUTT et al., 2015; UMSTOT et al., 2024).

Entre os riscos associados à traqueostomia estão infecções, sangramentos, lesões nas estruturas adjacentes e complicações relacionadas ao uso prolongado, como estenose traqueal (UMSTOT et al., 2024).

O processo de decanulação, que é a remoção da cânula de traqueostomia, é um passo crucial na recuperação de pacientes traqueostomizados e requer uma avaliação criteriosa da capacidade do paciente de manter uma via aérea patente e eficaz sem a ajuda da cânula.

Estudos recentes, como os de Zivi et al., (2018) e Dubey et al., (2023), indicam que a decanulação precoce, quando realizada de forma segura, pode acelerar a reabilitação do paciente, facilitar a alta hospitalar e reduzir a incidência de complicações associadas à traqueostomia prolongada, como infecções e estenose traqueal. Além disso, a decanulação contribui para a melhoria da qualidade de vida do paciente, permitindo uma maior independência e retorno às atividades diárias.

Em um hospital de urgências de grande porte, a decanulação bem-sucedida está associada a uma série de benefícios significativos, incluindo a redução do tempo de permanência hospitalar e a diminuição dos custos associados ao cuidado prolongado. A implementação de protocolos padronizados para a avaliação e decanulação de pacientes traqueostomizados pode otimizar os resultados clínicos e econômicos, promovendo uma gestão mais eficiente dos recursos de saúde. 


Desenvolvimento

O procedimento de traqueostomia no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira – HUGOL, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, administrada pela Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde – Agir, é realizado pela equipe de cirurgia geral e cirurgia torácica. Para monitorar a quantidade de pacientes traqueostomizados mensalmente e a quantidade de pacientes decanulados na alta hospitalar foi criado o indicador “Taxa de decanulação na alta hospitalar”. Este indicador é alimentado pela equipe de fisioterapia e gerenciado pela supervisão multiprofissional.

Para a melhoria do processo foi proposto realizar a criação de um painel a partir da atualização da evolução da fisioterapia dentro do prontuário eletrônico para que os dados fossem compilados. Após a atualização da evolução estruturada foram incluídos campos para registro de data da realização da traqueostomia, data da troca de dispositivo para traqueostomia metálica e data da decanulação.

Esse novo formato de registro permitiu observar uma otimização do tempo da equipe, garantia da segurança da guarda das informações e melhora na quantidade de registros. Com a implementação do painel observou-se um aumento de 82% nos registros em comparação com a média dos três meses anteriores.


Considerações

 O projeto empreendido durante o Programa de Desenvolvimento de Líderes da Agir teve como objetivo monitorar a quantidade de traqueostomias realizadas no setor e quantificar os pacientes que recebem alta hospitalar decanulados, ou seja sem o uso da traqueostomia.

A implementação do painel resultou em uma significativa otimização do processo de registro e monitoramento desses procedimentos. A partir da inclusão de campos específicos para registro das datas de cada procedimento, foi possível garantir a segurança das informações e aumentar a eficiência no preenchimento dos dados.

Esse avanço não só otimizou o tempo da equipe, mas também assegurou a integridade e a acessibilidade das informações, promovendo uma gestão mais eficiente dos recursos de saúde. A padronização dos protocolos de avaliação e decanulação de pacientes traqueostomizados contribuiu para a redução do tempo de permanência hospitalar e dos custos associados ao cuidado prolongado, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Portanto, a criação e implementação do painel no prontuário eletrônico demonstrou ser uma estratégia eficaz para aprimorar o acompanhamento das traqueostomias e decanulações, refletindo diretamente na melhoria dos resultados clínicos do hospital.


Referências:

DURBIN, C. G. Jr. Tracheostomy: why, when, and how? Respir Care, v. 55, n. 8, p. 1056-1068, ago. 2010. PMID: 20667153.

UMSTOT, R.; SAMANTA, D.; UMSTOT, E.; AREA, S. A.; RICHMOND, B. K.; JARROUJ, A. Ten-Year Review of Tracheostomy Techniques and Related Complications. Am Surg., v. 90, n. 2, p. 225-230, fev. 2024. DOI: 10.1177/00031348231198115. Epub 2023 Aug 22. PMID: 37608524.

SUTT, A. L.; CORNWELL, P.; MULLANY, D.; KINNEALLY, T.; FRASER, J. F. The use of tracheostomy speaking valves in mechanically ventilated patients results in improved communication and does not prolong ventilation time in cardiothoracic intensive care unit patients. J Crit Care, v. 30, n. 3, p. 491-494, jun. 2015. DOI: 10.1016/j.jcrc.2014.12.017. Epub 2015 Jan 6. PMID: 25599947.

ZIVI, I.; VALSECCHI, R.; MAESTRI, R.; MAFFIA, S.; ZARUCCHI, A.; MOLATORE, K.; VELLATI, E.; SALTUARI, L.; FRAZZITTA, G. Early Rehabilitation Reduces Time to Decannulation in Patients With Severe Acquired Brain Injury: A Retrospective Study. Front Neurol., v. 9, p. 559, jul. 2018. DOI: 10.3389/fneur.2018.00559. PMID: 30042728; PMCID: PMC6048253.

DUBEY, Y. V.; PRASAD, B. K. A Study of Difficulty in Decannulation of Tracheostomized Head Injury Patients. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg., v. 75, n. 2, p. 817-824, jun. 2023. DOI: 10.1007/s12070-023-03504-y. Epub 2023 Feb 4. PMID: 37275027; PMCID: PMC10235311.





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